Show Gospel da Rede Globo consumiu R$ 3 milhões dos cofres públicos – Festival Promessas

A emissora, tradicionalmente ligada à Igreja Católica, dedicou 75 minutos de programação ao segmento “evangélico”. Foram ao ar trechos do festival Promessas, produzido pela Globo com os principais nomes da música gospel.

O público era de 20 mil pessoas –um décimo do esperado. Ainda assim, o canal faz do evento cartão de visitas para uma fatia de audiência em ascensão: estima-se que mais de 20% da população brasileira seja evangélica.

O festival teve tratamento VIP na Globo e consumiu R$ 2,9 milhões da Prefeitura do Rio.

Isso num momento em que a rede registra fuga de espectadores. A média/dia de audiência (7h à meia-noite) está em 16 pontos (cada ponto equivale a 58 mil domicílios na Grande SP), 10% abaixo da meta anunciada para 2011.

Em 2010, o pastor Silas Malafaia –ligado à Assembleia de Deus e ex-detrator do que julgava ser a “emissora oficial da Igreja”– reuniu-se com João Roberto Marinho, vice-presidente das Organizações Globo, e sugeriu o festival.

A Globo confirma o encontro e diz que “coincidiu com intenção antiga de se aproximar mais do segmento gospel”. Circulam nesse mercado R$ 2 bilhões anuais.

Diretor do núcleo responsável pelo Promessas, Luiz Gleiser diz “reviver a epifania” dos anos 90, quando detectou a existência de audiência ávida pelo sertanejo, gênero que viria a explodir.

A estratégia de aproximação começou há dois anos, após o “Jornal Nacional” fazer uma série de reportagens sobre os evangélicos, mas as reportagens sempre com o jeitão da Rede Globo, mostrando evangélicos ignorantes e pobres. Desde então, a rede tem dado destaque em seu noticiário a eventos evangélicos (desde que sejam anti-Universal). A presença de músicos gospel nos programas de Xuxa e Faustão cresceu, e há planos para um programa aos sábados.

O problema é que parte do público-alvo ainda é cética quanto às intenções globais.

Para Malafaia, o baixo quórum no Promessas é parcialmente explicado por “evangélicos desconfiados” após anos “apanhando” da rede.

A relação entre emissora e igrejas, de fato, já viu dias piores. Como em 95, quando Edson Celulari viveu um pastor pilantra na série “Decadência”. Hoje, a Globo é acusada de querer entrar num jogo cujas regras desconhece.

Para o próprio Malafaia, a rede “tem doutorado em tecnologia, mas em mundo evangélico é analfabeta”.
Reportagens da Globonews sobre o festival, por exemplo, usaram termos como “fãs” e “ídolos” –o que ofendeu alguns fiéis, pois sua crença rejeita a idolatria.

SÓ ENTRA NA GLOBO SE FOR ANTI-UNIVERSAL

“A aproximação da Globo se dá principalmente com os adversários de Edir Macedo”, diz o pesquisador Ricardo Mariano, da PUC-RS.

Em nota, a Igreja Universal afirmou considerar excelente a aproximação de outros canais com os evangélicos.

O USO DO DINHEIRO PÚBLICO  PARA PROMOVER ISSO

Sempre foi costume da Rede Globo mamar nas tetas do Estado. Os gastos são questionáveis primeiro porque a prefeitura financiou um evento de caráter religioso, o que a Constituição impede por se incompatível com o Estado laico, e, segundo, os recursos públicos beneficiaram uma emissora TV do setor privado.

*Com informações da Folha de São Paulo