sexta-feira, 8 de outubro de 2010

    Lula rebate críticas a Dilma sobre aborto

    Presidente comparou ataques aos que enfrentou na campanha de 1989 e disse ser defensor da religião

    Felipe Werneck, de O Estado de S. Paulo

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva repudiou ontem acusações feitas à candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, de defender a legalização do aborto e o fechamento de igrejas evangélicas, comparou esses ataques àqueles que sofreu na campanha de 1989 e apresentou-se como defensor da religião. “Duvido que tenha um pastor que tenha que agradecer a alguém mais do que a mim pelo que eu fiz pela liberdade religiosa neste País”, afirmou Lula, em entrevista ao lado do senador reeleito e bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, Marcelo Crivella (PRB-RJ). “Que vai ter gente falando isso ou aquilo, sempre terá. Faz parte do jogo político. Sempre tem gente que baixa o nível, que desvia do principal, mas isso é normal na democracia. Quem está julgando são os brasileiros. E a gente vai ganhar as eleições.”

    Para Lula, “sempre há” jogo sujo em disputas eleitorais como a que está em curso. “O que a gente não pode é priorizar o secundário”, disse. “A Dilma tem programa, um governo que pode orgulhosamente comprovar o que fez, ela tem posição contra o aborto, já dita por ela. Agora, se você tem gente no jogo do submundo da política fazendo aquela política rasteira como fizeram comigo em 89… Já fui vítima muito disso, falavam da minha barba, da estrela do meu partido, da cor da bandeira do meu partido, diziam que eu ia acabar com as igrejas evangélicas. Estou com oito anos de mandato, e as pessoas sabem o que eu fiz.”

    Conversando com jornalistas no início da noite, após a inauguração de novas instalações do Centro de Pesquisas da Petrobrás ( Cenpes), Lula considerou “uma bênção de Deus” a realização do segundo turno nas eleições presidenciais. Até a votação, porém, a campanha de Dilma pregava a possibilidade de vencer já no primeiro turno. “O segundo turno permite que as pessoas conheçam melhor cada candidato e que haja um debate de ideias mais frontal. Acho isso ótimo para o Brasil”, disse o presidente, que prometeu “participar de muita coisa” na campanha. “Tem duas coisas que agradeço a Deus: ter perdido em 89, porque cheguei mais preparado, e o segundo turno de 2006. Se ganho com 51%, ia ficar aquela dúvida de que metade da população não queria. Foi o segundo turno que permitiu o debate político e ideológico, cada um mostrar o que era, com quem está comprometido.”

    Marina. Lula chamou a ex-candidata do PV a presidente, senadora Marina Silva (PT-AC) – cujo apoio agora os petistas cobiçam – de “extraordinária companheira”. “Entrou (no governo) quando eu quis e saiu quando ela quis. Quando ela decidiu sair do governo eu compreendi, quando saiu do PT compreendi, quando quis ser candidata eu compreendi, e agora compreendo que vá demorar um pouco para tomar a decisão. E talvez nem tome decisão, vá ficar um pouco neutra. Mas é importante lembrar que os eleitores vão-se movimentando, não estão parados.” O presidente afirmou que, se conhece o tipo de voto dado a Marina, avalia que boa parte vai para Dilma. “Qual foi o recado que a população deu no dia 3? Diferentemente do que diziam, que o povo tinha medo de votar em mulher, 67% dos votos foram para as mulheres. Significa que o povo deu um recado: queremos uma mulher na Presidência da República”, declarou.

    Ao comentar o resgate de FHC pela oposição no segundo turno, Lula considerou “ótimo que eles (os tucanos) valorizem o que fizeram no País”. “Esse segundo turno é a possibilidade de fazer uma comparação histórica do que aconteceu no período do Lula e do FHC, e daí o povo escolher.”

    Antes da entrevista, em discurso no Cenpes, Lula afirmou, sem citar o antecessor, que a “elite que dirigia este País não sonhava, tinha pesadelo, era subordinada ao FMI e a tantas outras coisas”. “Governante que não sonha não transmite esperança, governante que só olha números estatísticos não percebe que por detrás de cada número tem um ser humano. O governante que não enxerga isso não está preparado para governar este País.”

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